08 outubro 2010

Ferrugem e óleo queimado

Hoje completei três dias mexendo em uma Shovel.
Uma daquelas tradicionais motocicletas montadas de balde. Daquelas que a maioria das peças não se conhece ou são inimigas de infância. Um real exemplo do mau uso do martelo.
Na verdade um perfeito retrato de uma realidade da maioria das Harleys antigas. De quando os únicos recursos disponíveis eram criatividade, coragem e paixão. A habilidade para montar as sucatas compradas nos leilões nem sempre estava nas mãos. Literatura, fórum, blogs......!? Sem falar em peças e catálogos. A coisa era linda.
Eu sei que isso não é novidade. Mas despertou em mim um questionamento, ou melhor, uma dúvida bastante apropriada. Tecnicamente tentar fazer uma moto dessas “falar” é um desafio e demanda muito tempo e atenção. Praticamente o dobro ou mais de trabalho a ser aplicado em uma moto nova. E não é possível cobrar o valor relativo. Ai vai a questão; Vale a pena encarar esses desafios?
Certamente do ponto de vista comercial não vale nem chegar perto. Até por que, como mecânico, só de estar do lado de uma dessas motos elas vão dar algum trabalho. E quase sempre é inoportuno.
Mas por outro lado....
Eu acho importante, aliás, muito importante lembrarmo-nos de coisa essenciais. Tais como respirar fundo, comer devagar, fazer as próprias ferramentas e principalmente lembrar que as coisas “simples” e antigas são, no mínimo, a razão das coisas modernas existirem.
No meio do processo, normalmente navego por muitos tipos de sensações. Raiva, dor, frustração, criatividade, dúvida, angustia, cansaço, mais criatividade e finalmente alegria. As vezes por pouco tempo. No final das contas este é um tipo de enriquecimento ou de aprendizado que devemos passar. Como em outras situações da vida. E quando a raiva acaba eu até fico orgulhoso e emocionado de ver a velhinha funcionando.
Do ponto de vista técnico, uma coisa é certa, sempre que passo uma dessas saio com um sentimento de que estou um pouco melhor. Pode até não ser verdade. Mas é verdade que sempre aplico alguma coisa que apendi ou lembrei nos procedimentos de mecânica atuais. E isso me ajuda muito, principalmente nos diagnósticos. OU seja, de vez em quando, vale a pena um bocado de ferrugem e óleo queimado.

Bom, parece que meu próximo desafio vai ser uma Flat Head. Ai jesusss.